• Marco Ferrari Sommelier
  • English Portuguese Spanish
Terroir do Brasil - Campanha Gaúcha
  • Terroir do Brasil - Campanha Gaúcha
    Terroir do Brasil - Campanha Gaúcha

  • Vinho de Terroir - Campanha Gaúcha

    A Campanha Gaúcha é a região vinícola mais ao sul do Brasil, sua extensão é ampla, corre ao longo da fronteira do estado do Rio Grande do Sul com a Argentina, no município de Uruguaiana, e com o Uruguai, até o município de Bagé.

    Essa ampla região foi descoberta na década de 1970 pela multinacional Seagram’s, dona da marca Almadén a qual, por sua vez, reivindica o título de mais antiga vinícola da California.

    Naquele tempo o Brasil tinha restrição às importações de bebidas, isso fez com que a multinacional canadense buscasse alternativas para entrar no mercado nacional de vinho que julgava promissor, nada mais obvio que entregar a tarefa ao ramo expert de suas marcas, a Almadén, justamente.

    Assim foram adquiridos cerca de 1.200 hectares de terra na região da Campanha, mais precisamente em Santana do Livramento e começou a exploração vitivinícola naquela área.

    A continuação da história é meio triste, a marca Almadén ganhou certo destaque no Brasil, um mercado fechado, sem concorrência e com um publico inexperiente e pouco crítico que basicamente bebia o que se tinha e não era grande coisa.

    Era o Brasil do vinho da década de ’80 e ’90, uma época em que o mercado era dividido em três / quatro marcas de vinho nacional de qualidade sofrível, era o tempo dos Chateau Duvalier, Forrestier, Baron de Lantier, Chandon (sim, naquele tempo a Chandon ainda fazia vinho não espumante) e a própria Almadén, com os importados que começaram a chegar com tudo, de 1994 em diante.

    Justamente a chegada dos importados foi determinante para que a indústria do vinho gaúcho tomasse o choque de realidade que merecia, se conscientizasse que a qualidade daquilo que faziam era simplesmente improponível e começasse a virada rumo a qualidade que hoje alcançamos, embora as vezes ainda relutemos em reconhecer, quase 30 anos depois.

    Voltando ao nosso Almadén e ao destino da Campanha Gaúcha, a Seagram’s passou a bola, ou o abacaxi, para a multinacional francesa Pernod Ricard em 2001, que adquiriu marca, vinhedos e vinícola, mudou a embalagem mas o vinho continuou mais ou menos, sem condições de ganhar novos adeptos, ficando com seu mercado cativo conquistado nos anos anteriores.

    Não demorou para que essa outra gigante da indústria de bebidas perdesse o encanto com o mercado brasileiro de vinho e optasse para focar seus investimento nos destilados populares aqui produzidos, importando o resto e deixando de lado toda a produção nacional de bebidas fermentadas, a ideia era se livrar da Almadén, da marca e das instalações junto.

    Isso só foi possível em 2009, quando a marca, e o resto, foram relevados pelo Grupo Miolo, a partir daí, graças ao comprometimento de uma vinícola brasileira de grande porte, a qualidade desse vinho decolou de forma exponencial e as aptidões da Campanha atiçaram o interesse de outros produtores, e dos consumidores também.

    A verdade é que a Campanha permite realmente desenvolver uma excelente viticultura, seja do ponto de vista da excelência para produção de vinhos de alta gama, como para exploração comercial baseada em volumes, mesmo assim ainda duvido que consigamos ali fazer vinhos com o mesmo baixo custo dos baratos chilenos e argentinos, até por uma questão que não pretendo abordar, o tristemente conhecido “custo Brasil”.

    A Campanha se estende entre os paralelos 29º e 32º Sul, com altitude variável entre 100 e 300 m.s.n.m. numa área muito ampla de quase 45.000 km2, sendo cerca de 1.560 hectares de vinhedos de Vitis vinífera, é a segunda maior região produtora de vinhos finos, com 31% de share, atrás da Serra Gaúcha que responde por 59% da produção.

    O clima possui estações bem definidas, com inverno frio e úmido e temperaturas que podem chegar abaixo de zero, enquanto o verão é quente, de dias longos devido à latitude e noites frescas, pois o caráter plano da região deixa o vento correr livre a refrescar os vinhedos proporcionando assim aquela amplitude térmica dia / noite que as uvas viníferas adoram.

    As chuvas ultrapassam os 1.200 mm/ano mas, a diferença da Serra Gaúcha, são muito bem distribuídas, com maior volume no inverno e pouca incidência no verão fato que, unido à boa drenagem do solo, favorece a maturação fenólica das castas tintas, inclusive tardias, como Cabernet Sauvignon e Tannat que aqui ganham destaque de alta qualidade.

    O solo é franco arenoso, com formações rochosas graníticas e calcarias. A condução em espaldeira dos vinhedos domina o cenário da Campanha, proporcionando assim ótima insolação dos cachos, ventilação e, eventualmente, a mecanização das atividades agrícolas, as elevações são do tipo coxilhas, colinas suaves e cobertas por pastagens ou vinhedos.

    Como dissemos, após um começo dificultoso, a Campanha atraiu as atenções de produtores  gaúchos cujos esforços, somados aos dos pesquisadores da Embrapa em colaboração com as principais universidades do RS, foram brindados com a aprovação da Indicação Geográfica de Procedência, a sexta do vinho brasileiro, que vai se juntar à DO Vale dos Vinhedos, aguardando as outras três IG que se encontram em fase de estruturação, Altos de Pinto Bandeira, no RS, Vinhos de Altitude de Santa Catarina e Vale do São Francisco, no semiárido nordestino.

    Vamos resumir aqui as linhas gerais de elaboração dos vinhos a Indicação Geográfica Campanha Gaúcha:

    14 municípios, 1.560 hectares de vinhedos, 100% Vitis viníferas, 36 castas autorizadas, sendo as principais:

    Castas Autorizadas Brancas:

    • Alvarinho
    • Chenin Blanc
    • Gewurztraminer
    • Pinot Grigio
    • Riesling Italico
    • Riesling Renano
    • Sauvignon Blanc
    • Trebbiano

    Castas Autorizadas Tintas:

    • Ancelotta
    • Cabernet Franc
    • Cabernet Sauvignon
    • Malbec
    • Marselan
    • Merlot
    • Petit Verdot
    • Pinot Noir
    • Ruby Cabernet
    • Syrah
    • Tannat
    • Tempranillo
    • Touriga Nacional e outras menos importantes

    O vinho deverá ser produzido a partir de uvas 100% procedentes da região demarcada.

    Tipo de vinhos permitidos: Vinho Fino Branco, Vinho Fino Rosado, Vinho Fino Tinto, Vinho Espumante Fino.

    Produtividade máxima: 15 ton/ha para base espumante. 12 ton/ha para vinho branco e rosado. 10 ton/ha para vinho tinto.

    Os vinhos varietais deverão ser elaborados com, no mínimo, 85% do varietal mencionado no rótulo.

     Os espumantes poderão ser elaborados pelo método Charmat ou Clássico.

    Todas as etapas de produção dos vinhos da IP Campanha, incluindo afinamento e envelhecimento, quando necessários, deverão obrigatoriamente acontecer dentro da região demarcada da IP.

    É muito importante que no Brasil o reconhecimento de denominações de origem seja efetivado, se trata de uma garantia para o consumidor acerca da procedência e das boas praticas de produção, tutelando a qualidade e, sobretudo, enfatizando a tipicidade do vinho e do alimento, consolidando a permanência de estruturas produtivas em seu território de origem e fortalecendo assim o aspecto socio econômico da legislação.