Vinho de Terroir – Vale dos Vinhedos
Os vinhos do Vale dos Vinhedos vêm melhorando sua qualidade à medida que o conhecimento enológico dos produtores vem avançando também.
Essa é a região vinicola do Brasil mais emblemática, não apenas pela quantidade de vinho produzido, pois o volume grande de vinho no Brasil ainda pertence à qualidade de mesa da qual não falo em meu site, mas pelo fato de atrair o olhar do publico com muito mais destaque.
É no Vale dos Vinhedos que nasceu e se desenvolveu o eno-turismo no Brasil, muitas pessoas conhecem o vinho brasileiro apenas porque foram visitar as belas paisagens do Vale, se encantaram e passaram a perceber que, olha só...o vinho brasileiro também é bom! Quem diria?
Entre os tropeços do início, quando ainda era difícil fazer com que os gaúchos assimilassem que era melhor fazer um litro de vinho bom que dois de qualidade sofrível, passando pela influência dos vinhos importados, que mordeu que nem bicho alguns de nossos produtores os quais resolveram tentar fazer o mesmo tipo de vinho que se faz na Argentina ou no Chile, com resultados que podemos bem imaginar, embora não desejar, não de novo, pelo menos.
Bem agora, já faz uns dez anos ou por aí, que os produtores do Vale entenderam que potencial para qualidade tem de sobra, desde que sejam respeitadas as características de clima e solo peculiares, utilizando as práticas agrícolas apropriadas e as castas que melhor se adaptam ao desafiador clima do Vale.
Os espumantes sempre foram um consenso geral, inclusive com a chancela de vários críticos internacionais que, em vários concursos, provaram e aprovaram os exemplares produzidos na Serra Gaúcha.
Os brancos vem conquistando espaço com grande velocidade, espaço que só no é maior porque o brasileiro, ao contrario de toda a logica da harmonização apoiada no clima do país, teima em preferir consumir vinhos tintos de bom corpo, considerando o branco uma espécie de subproduto da uva, visão troglodita do vinho que vem mudando dia após dia, com menos velocidade que o desejável porém.
A Chardonnay é uma casta generosa por natureza, no Vale dos Vinhedos não se nega, apresenta traços varietais muito marcados, aromas amplos, de frutas maduras, tropicais e cítricas, com presença notável de frutas a polpa branca, dependendo do grau de maturação e da produção por planta.
Os vinhos obtidos dessa casta representam um espetáculo de riqueza sensorial, tanto os base para espumante, ácidos e vibrantes, como os vinhos tranquilos, que não desdenham o uso da barrica para agregar corpo e complexidade aromática.
As castas tintas ainda precisam de um pouco mais de disciplina, o clima é desafiador para muitas delas, mas já deu para individuar as que melhor se expressam ao longo das encostas dos morros de Bento Gonçalves e arredores.
A Merlot é líder inquestionada entre as tintas, a maturação coincide com o período que conjuga a justa dose de calor com a falta de chuva, levando os açúcares e os polifenóis desta casta ao nível ideal para vinificação.
Desde que saibamos conduzir com cuidado o vinhedo, boa exposição, baixa produtividade, bom manejo do dossel vegetativo e cura nos detalhes, a Merlot pode nos compensar com vinhos de extrema qualidade.
Eu mesmo já provei exemplares de Merlot do Vale dos Vinhedos de tal qualidade para rivalizar sem complexo nenhum com Grand Cru de Saint Emilion, vinhos caros sim, mas quem disse que só por ser brasileiro o vinho tem que ser de preço rasgado? A qualidade no vinho tem custo elevado, representa sacrifício de tempo e investimentos contínuos, isso no Brasil, na França, em qualquer lugar, é isso que define o preço não a proximidade do mercado da região produtora.
Desde 2012 o Vale dos Vinhedos ostenta a Denominação de Origem Controlada, um conjunto de regras, inspiradas na lei das denominações europeias que certifica o vinho e garante ao consumidor que padrões de qualidade e de tipicidade são observados na produção do vinho que ostenta o selo no rótulo.
Parece que o Brasil tende a aumentar cada vez mais a abrangência da lei das DO e IP (Indicação de Procedência) e isso é positivo, mostra compromisso com a qualidade, respeito ao consumidor e, muito importante, comprometimento econômico-social com as pessoas envolvidas no trabalho do campo, pois uma das regras de qualquer DO ou IP é que a totalidade das operações produtivas sejam desenvolvidas dentro dos limites da própria DO, isso é agregar valor ao trabalho do homem do campo.
Portanto o horizonte macro do vinho brasileiro e de sua região mais emblemática apresenta um viés certamente positivo, desde que nenhuma autoridade invente algo para atrapalhar e, mais importante, desde que o próprio brasileiro se dê conta disso.