Vinho de Terroir – Serra do Sudeste
A Serra do Sudeste é uma região vitícola que deve sua origem à busca incessante de novas áreas para produção de uvas finas que acomete desde há muito os produtores de vinho gaúchos.
Na pratica o espaço limitado pelos vinhedos de americanas da Serra Gaúcha tem levado os produtores de vinhos finos a buscarem alternativas para se abastecer de matéria prima com preço competitivo.
O ponto principal é que a Serra Gaúcha tem uma superfície vitícola dominada por pequenos produtores de uva que, em grande parte, não fazem vinho, mas entregam a produção a terceiros, como cooperativas, grandes vinícolas etc.
Assim o preço que regula a compra da matéria prima é geralmente estipulado pela Aurora, a maior cooperativa vitivinícola da América do Sul, a qual estabelece um preço médio que geralmente fica na proporção de 1 para 2 a diferença entre a uva americana, aquela do suco e do vinho de mesa, e as variedades viníferas.
Ocorre que a produtividade de um vinhedo de americanas, supera a de um de vinífera na proporção de 1 a 4 até, além de demandar muito menos tratamentos e cuidados.
Precisamos lembrar também que na Serra Gaúcha cerca de 85% da produção de uva é de uvas americanas, tudo isso lido de forma conjunta nos mostra uma realidade desfavorável à conversão de vinhedos de americanas para vinífera, não existe conveniência nem necessidade, vista a demanda relativamente estável dessas uvas (o vinho de mesa permanece mais ou menos nos mesmos patamares de consumo enquanto o suco cresce de forma exponencial).
Logo aquele produtor de vinho fino que precisa de matéria prima para além daquela produzida em seus próprios vinhedos, ou paga um preço acima do mercado, encarecendo o processo produtivo, ou precisa procurar outras regiões para crescer e competir com o mercado dos importados, dominado pela concorrência forte de Argentina, Portugal e, sobretudo, Chile, que contam com custos produtivos inferiores oriundos de situações climáticas e tributárias favoráveis.
É nesse quadro que a Serra do Sudeste foi “descoberta”, uma terra de excelentes condições climáticas, com verões de dias quentes e noites frias, estações bem definidas e geografia muito favorável, coxilhas de altitude moderada, solo inorgânico e pobre com presença calcaria que, se não ajuda a engordar o gado, favorece o cultivo da videira, planta que prefere solos pobres e de pouca fertilidade.
O Instituto de Pesquisa Agrícola do RS mapeou pela primeira vez esta área nos anos ’70, mas é no começo da década de 2000 que as primeiras vinícolas de certa importância começam a plantar vinhedos por aqui, entre os municípios de Encruzilhada do Sul, o principal, Pinheiro Machado e Candiota (mesmo próxima de Bagé Candiota é considerada pelo IBGE como pertencente à Serra do Sudeste e não à Campanha, embora haja controvérsias).
Hoje talvez a vinícola que mais conta com as uvas de Encruzilhada seja a Lídio Carraro, embora outras maiores como Casa Valduga e a própria Chandon produzam bastante vinho com a matéria prima extraída dos vinhedos da Serra do Sudeste.
Em grande parte se trata de uma região vitícola, geralmente as uvas aqui colhidas são conduzidas nas instalações das vinícolas na Serra Gaúcha e lá transformadas em vinho, esta região ainda não possui , e nem pleiteia em curto prazo, o reconhecimento a Denominação de Origem Controlada, quando, e se, isso ocorrer o vinho deverá ser produzido por aqui, já que este é um fator crucial na lei das denominações de origem.
As castas internacionais dominam a viticultura na Serra do Sudeste, tintas e brancas que na Serra Gaúcha podem representar um desafio pelo clima úmido, aqui prosperam com mais facilidade, o índice pluviométrico é alinhado com o estado do Rio Grande do Sul, chove um pouco menos que no Vale dos Vinhedos, mas o que mais importa é que as chuvas são melhor distribuídas ao longo do ano, raramente coincidindo com o período da colheita das variedades tardias.
A característica dos vinhos daqui é o bom nível de aromas, a sapidez pronunciada por conta da presença do calcário e o perfil gastronômico, boa acidez, taninos enxutos nos tintos e presença mineral nos brancos.
Se é verdade que a Serra do Sudeste não possui o panorama encantador da Serra Gaúcha, é também verdade que seus vinhos representam um patrimônio da vitivinicultura brasileira que merece ser descoberto, e sem demora.