Os Vinhos Biodinâmicos
A biodinâmica e o vinho biodinâmico estão contando com cada vez mais adeptos ao redor do mundo, na viticultura a tendencia à adesão a essa verdadeira filosofia de cultivo é muito grande.
Os consumidores sensíveis à boa alimentação, no sentido saudável do termo, estão despertando para o lado do vinho assim como para os demais itens do cardápio diário.
Assim é também no Brasil, embora de forma ainda bastante tímida, quando comparamos com culturas mais sensíveis aos assuntos ligados a meio ambiente, ecologia, alimentação saudável etc.
De todo modo podemos observar que o vinho biodinâmico já faz despertar a atenção dos apreciadores mais bem-informados. Mas o que vem a ser exatamente um vinho biodinâmico? É muito diferente de um vinho orgânico? Ou não?
A origem da biodinâmica
Por volta de 1920 o filosofo austríaco Rudolf Steiner, fundador da antroposofia, a filosofia ligada à medicina que enxerga o ser humano de um ponto de vista sistêmico e que procura tratar o paciente como um todo, cuidando de seu bem-estar geral e não apenas da doença, resolveu explorar as ligações que unem os seres vivos aos ritmos e movimentos do Cosmos.
Partindo do pressuposto que a maior força existente no planeta terra, a água dos oceanos, sofre a influência lunar por meio das marés, os demais seres vivos, entre os quais as plantas e, em nosso caso, as videiras, certamente são influenciadas pelos planetas e pelos astros, pouco importa que nós não possamos comprovar visualmente.
Outros estudiosos se juntaram à pesquisa de Steiner, os mais famosos foram o cientista químico e agrônomo alemão Ehrenfried Pfeiffer e a também alemã Maria Thun, a quem se atribui a formulação de um até hoje utilizado calendário lunar, de acordo com o qual o desenvolvimento biológico da planta ocorre ao ritmo das movimentações da lua perante as constelações que formam os signos zodiacais, associando assim, de forma direta, as operações de lavoura no campo com as fases da lua.
Aliás, no caso do vinho biodinâmico, o calendário regula também o trabalho na vinícola, determinando o dia certo para cada tarefas, tais como trasfega, descuba, engarrafamento e outras.
Os três princípios da biodinâmica
Para uma alimentação saudável é necessário recriar vínculos harmoniosos com a natureza fornecedora da matéria prima, a biodinâmica torna o solo e as plantas receptivas às inúmeras influências do céu e da terra. Para que isso aconteça precisamos observar os três princípios básicos da biodinâmica.
Os ritmos cósmicos e a influência da lua
Levando em conta esses aspectos damos força a planta, fazendo com que a videira desenvolva mais resistência a pragas e doenças, integrando seu ritmo vegetativo ao cosmos em geral.
Sabemos que as constelações do zodíaco fazem referência aos elementos terrestres, terra, ar, fogo ou água. Ao passar por eles em seu movimento, a lua transmitirá à terra, e a videira, a força do elemento que irá interagir e ativar o respectivo componente da planta: flor, caule, folha, fruta ou raiz, de acordo com o elemento que lhe corresponde.
Assim não somente a lua e suas fases, mas o sol e demais planetas, determinam as fases da lavoura no vinhedo, discriminadas no calendário biodinâmico, que orienta e fortalece o crescimento da videira.
Os preparados biodinâmicos.
O desenvolvimento da videira na biodinâmica é ligada ao uso de compostos orgânicos, não se concebe a utilização de preparados de síntese ou de agrotóxicos, para isso existem os preparados biodinâmicos a serem aplicados à videira e ao solo, de acordo com o calendário biodinâmico.
Existem compostos enumerados de 500 a 508, todos a base de plantas e vegetais como camomila, valeriana, urtigas e outros, esses compostos podem ser transformados em chá para pulverização de folhas e frutos ou misturados com esterco formando uma massa com a qual se preenche um chifre de boi que é enterrado no vinhedo no intuito de fortalecer as raízes, esses compostos representam tudo que o viticultor dispõe em termos de recursos para repelir pragas, doenças e fortalecer a imunidade natural da videira.
O ambiente vitícola.
Em biodinâmica o ambiente em que o vinhedo é inserido é de suma importância, de nada adianta seguir o calendário, aplicar corretamente os preparados se o ambiente não for cuidado, certa vez assisti a entrevista entre o youtuber vínico Beto Duarte e o produtor francês Jean Michel Deiss, fervoroso adepto da biodinâmica da Alsácia.
Jean Michel falou que o ambiente em que cultiva suas videiras é mantido livre de todo tipo de agrotóxicos, de forma que as raízes de suas videiras possam interagir com as raízes das outras plantas numa hipotética teia subterrânea que se fortalece em conjunto, formando uma barreira contra pragas e doenças de forma a constituir um ambiente virtuoso e forte que naturalmente fortalece o ecossistema do vinhedo como um todo.
A prática da viticultura biodinâmica claramente reforça o elo entre a uva, logo o vinho dela obtido, com o terroir, realçando o conceito de tipicidade em nível elevado.
O país vinícola que está na dianteira na produção de vinhos biodinâmicos é, mais uma vez, a França, com o Vale de Loire que abriga a maior área de vinhedos biodinâmicos do mundo, porém hoje todos os países produtores de vinho, seja da Europa ou do Novo Mundo, contam com cada vez mais produtores biodinâmicos.
Uns pouco céticos dizem que a biodinâmica tem um que de esotérico em suas regras, porém o conceito, se bem explicado, dificilmente é refutado, desde que nos permitamos enxergar a filosofia como um todo, no sentido de criar um ambiente propicio ao cultivo de uvas sã e vinhos que refletem fielmente seu terroir de origem.
Nesse aspecto reside a grande diferença entre um vinho “somente” orgânico, cujas uvas foram cultivadas sem agrotóxicos e químicas de síntese, e um vinho biodinâmico, este amparado pela filosofia que rege e sustenta as variadas etapas de sua elaboração.
A testemunha disso podemos chamar ilustres produtores, um entre os outros, Aubert de Villaine, sócio proprietário do Domaine de La Romané Conti, o vinho mais caro do mundo, 100% biodinâmico.