Castas Autóctones? O que é isso?
Antes de tudo vou avisar que esse texto é de certo cunho técnico, logo os apressados que só querem ler textos prêt-a-porter sobre vinho (o Érico Rocha chama de contéudo Nutella, eu não quero plagiá-lo e inventei a definição inspirada na moda francesa), ou param por aqui ou se resignem a ler um pouco mais, certo?
Digamos que existem duas maneiras de categorizar as castas autóctones, vou explicar brevemente.
Castas Autóctone ou Casta Típica?
Uma forma de pensar nos diz que as castas autóctones são aquelas castas nativas de determinado território e que dele nunca saíram, ou porque não se adaptaram em outros ambientes climáticos, ou pelo simples fato que sua graça era tão pouco relevante que não justificava o esforço.
Nesse âmbito podemos já fazer algum distingo, uma casta como a Nebbiolo, por exemplo, ou como a Sangiovese, não são consideradas castas autóctones, seu plantio não é limitado a uma região, por grande que seja, existem vinhedos em diferentes áreas geogáficas da Itália e, embora com mínima representatividade, em outros países, com resultados, vamos dizer...curiosos.
Logo, por serem nitidamente italianas, podemos definí-las como Castas Típicas Italianas, assim como podemos chamar a Touriga Nacional de Casta Típica Portuguesa.
Nessa ótica nenhuma das citadas acima podem ser chamadas de Casta Autóctone, devido à sua difusão em várias regiões dentro de seu país de origem.
A Casta Autóctone é aquela que nunca saiu de sua região de origem, como por exemplo, a Ruché, casta nativa do pequeno vilarejo de Castagnole Monferrato nas colinas piemontesas, que nos brinda com um vinho tinto leve de cor grenã típica, frutado e muito apreciado pelos piemonteses que o cultuam como uma reliquia, enquanto os brasileiros certamente não fazem idéia do que seja.
Quando se trata de Itália podemos passar o dia dando exemplos como esse, é o país que possui a maior diversidade ampelográfica do mundo, seguida de Portugal que também apresenta várias castas autóctones, como as vinhas mistas do Douro, onde no mesmo vinhedos convivem, em prefeita harmonia, castas antigas e, às vezes, desconhecidas que existem apenas ali.
Uma Outra Visão
Outra escola de pensamento com visão mais abrangente, intitula de Castas Autoctones todas as nativas de um país, a distinção já não é feita por região, mas alargando o conceito ao país como um todo.
Seguindo esse conceito, tanto Nebbiolo como Sangiovese ou Ruché, são castas autoctones italianas, o que não é desprovido de verdade, apenas temos aqui um conceito um pouco mais simplista e descomplicado, escolha o leitor aquele que prefere tomar por referência.
As Castas Internacionais
Em contraposição à categorização acima, temos as Castas Internacionais, as famos estrelas francesas que, faz tempo, transpuseram as divisas de suas regiões de origem e ganharam o mundo conquistando adeptos em vários países.
Não se faz necessário perder tempo com exemplos, o leitor já percebeu que estamos falando aqui das Cabernet Sauvignon, ou Franc, das Merlot, Pinot Noir, Chardonnay e muitas outras.
Seja por motivo de praticidade ou por obvios motivos comerciais, as castas internacionais estão presentes em praticamente todos os países produtores, mesmo naqueles com enorme patrimonio ampelográfico nativo, ou vocês pensam que na Itália e em Portugal não tem Chardonnay? Ou Cabernet Sauvignon? Pois tem, e muito.
E nas Américas?
Vale destacar que nos países da América, seja do Norte, Centro ou Sul, o conceito de casta autóctone não se aplica, nesse lado do mundo a Vitis Vinifera foi trazida pelos eurpoéus, seja na érpoca das navegações, ou em momentos posteriores, pois por aqui só se tinha Vitis Labrusca ou Americana, que não produzem vinho fino.
Provavelmente por isso a grande maioria das vinícolas americanas resolveu trabalhar com castas internacionais famosas e conhecidas por qualquer enologo, uma escolha ditada pela facilidade de trabalhar com genetica conhecida e mais fácil de vender seu vinho pelo mundo afora.